A igualdade de gênero continua a ser uma questão crucial em todo o mundo. Para as pessoas na Finlândia, ela tem sido um princípio orientador importante há muito tempo.
Em 1906, a Finlândia se tornou o primeiro país do mundo a conceder plenos direitos políticos às mulheres – tanto o direito de votar (o primeiro na Europa) quanto o direito de se candidatar. No momento da redação deste artigo, dez em cada 19 ministros do governo são mulheres, assim como 92 em cada 200 membros do Parlamento (46%).
Nossa lista mostra algumas das mulheres que abriram caminho para as outras, bem como algumas que se beneficiaram dos esforços anteriores e continuam a progredindo. Elas, por sua vez, servem como exemplos inspiradores para a próxima geração.
A lista abaixo está reconhecidamente incompleta – se incluíssemos todas as pessoas que a merecem, haveria milhões de mulheres neste artigo. (Observação: alguns dos links estão disponíveis apenas em inglês.)
Sanna Marin
A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin (nascida em 1985), atraiu a atenção quando assumiu o cargo, em dezembro de 2019, menos de um mês após seu 34º aniversário. Na época, ela era a primeira-ministra mais jovem do mundo e a mais jovem na história da Finlândia. Ela é a terceira mulher primeira-ministra do país. Não passou despercebido pela mídia que os outros quatro partidos da coalizão governamental têm lideranças femininas.
Em um artigo sobre Marin em abril de 2020, a edição americana da Vogue escreveu que a Finlândia “é um sucesso em termos de soft power – o igualitarismo, os benefícios para a família e o ambientalismo inovador que Marin incorpora”. Nesse momento, a experiência da Finlândia em combater o coronavírus estava apenas começando.
Em fevereiro de 2021, a revista TIME destacou Marin em sua lista TIME100 Next (os próximos 100) de “líderes emergentes de todo o mundo que estão moldando o futuro”.
Tove Jansson (e a Pequena Mi)
O autora e artista Tove Jansson (1914-2001) é mais conhecida como a criadora dos Moomins, os personagens divertidos e filosóficos que habitam nove romances e vários livros ilustrados, histórias em quadrinhos e filmes de animação. Tendo escrito e ilustrado os livros Moomin, que agora aparecem em mais de 50 idiomas, Jansson é provavelmente a artista e autora mais famosa da Finlândia. Ela também escreveu outros romances e contos e teve uma carreira prolífica como ilustradora e pintora. Jansson escreveu em sueco, uma das línguas oficiais da Finlândia.
Parte da popularidade dos Moomins vem da maneira como eles refletem as características humanas, muitas vezes com humor, às vezes lembrando os leitores de pessoas que eles conhecem na vida real. Uma personagem feminina Moomin que pertence a esta lista é a Pequena Mi. Embora pequena, ela não teme nada. Em um livro, ela ousa patinar no mar congelado; em outro, ela morde um leão na perna. Ela sempre fala o que pensa, avaliando as situações com uma honestidade brutal, e embora isso a faça parecer zangada, também a tornou uma favorita entre os fãs dos Moomins.
De certa forma, a própria Jansson escolheu um estilo de vida ousado. Por um tempo, ela viveu com um homem sem ser casada, contra as normas sociais da época. Depois, ela teve relacionamentos com mulheres, uma ofensa passível de punição na Finlândia de meados do século 20. Nos últimos anos, as comunidades GLS e feministas chamaram a atenção merecida para esta parte do legado de Jansson.
Armi Ratia
Em um documentário de 1976, um entrevistador pergunta a Armi Ratia: “De onde você tirou a ideia e a coragem de levar sua marca para o exterior?” Ela responde: “Você pode nascer com coragem ou pode se tornar corajoso por necessidade”. Ela não especifica qual opção se aplica a ela.
Ratia (1912–1979) fundou a Marimekko, uma empresa de design têxtil cujas estampas e roupas se tornaram famosas em todo o mundo. “Estou interessada em coisas que são novas e inesperadas”, diz ela no documentário. “Coisas impossíveis, principalmente, e coisas difíceis.”
No final da contas, não foi impossível para Ratia e a Marimekko alcançarem sucesso internacionalmente. Jacqueline Kennedy foi uma das celebridades que usou vestidos Marimekko, e muitos dos tecidos com estampas clássicas da empresa se tornaram icônicos e estão em produção até hoje.
Tarja Halonen
A primeira mulher presidente da Finlândia, Tarja Halonen (nascida em 1943) ocupou o cargo por dois mandatos de seis anos, de 2000 a 2012. Antes disso, ela foi membro do Parlamento por 21 anos e serviu em vários cargos ministeriais. Anteriormente, ela havia trabalhado como advogada na Organização Central dos Sindicatos da Finlândia.
Em um momento de seu primeiro mandato presidencial, as pesquisas mostraram um índice de aprovação de 88%. Ela teve boas classificações em regiões geográficas e grupos demográficos. Ao longo de sua carreira, Halonen procurou fortalecer os direitos dos trabalhadores e os direitos de diferentes minorias. O desenvolvimento sustentável foi outro foco. Ela serviu em várias organizações não governamentais por causas nas quais acredita.
Em 2015, Halonen foi convidada a lecionar na Harvard Kennedy School. Ela é membro do Conselho de Mulheres Líderes Mundiais, atua no Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Mediação da Secretaria-Geral da ONU e é co-presidente da Força-Tarefa de Alto Nível da ONU para a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento.
Linda Liukas
Com sua série de livros infantis, Olá Ruby, Linda Liukas (nascida em 1986) incentiva as crianças a aprenderem sobre codificação, tecnologia e Internet. Os livros, que ela escreveu e ilustrou, aparecem em mais de 20 idiomas. Ela também é cofundadora da Rails Girls, que organiza eventos para despertarem o interesse de meninas por tecnologia e programação.
Ela participa como consultora em programas escolares em todo o mundo e já apareceu em várias empresas de tecnologia e conferências, falando para o público sobre desmistificar e navegar no mundo dos computadores. Você pode assistir suas palestras no TED talk e algumas de suas outras palestras no YouTube.
Alma
A cantora Alma-Sofia Miettinen (nascida em 1996) atende pelo nome artístico de Alma e ganhou destaque como concorrente no Finnish Idols em 2013. Acordos de gravação e colaborações com outros artistas se seguiram, assim como um álbum solo intitulado Have U Seen Her? em 2020. Ela co-escreveu a música “Don’t Call Me Angel”, o tema do filme Charlie’s Angels de 2019, e canta em outra das canções do filme, “How It’s Done.”
Em 2020, quando as celebrações anuais do Dia de Helsinque (12 de junho) passaram a ser online devido às restrições relacionadas ao coronavírus, Alma fez um concerto em versão realidade virtual na capital finlandesa. Os membros do público puderam participar como avatares no mundo da Realidade Virtual.
Susanna Mälkki
A Maestrina Susanna Mälkki (nascida em 1969) tornou-se a primeira regente feminina da Orquestra Filarmônica de Helsinque em 2016. Ela regeu a Filarmônica de Londres, a Sinfônica da BBC e a Filarmônica de Nova York.
No início de sua carreira, ela se concentrou principalmente em tocar violoncelo. Em uma entrevista ao New York Times em 2016, ela destacou que as coisas eram muito diferentes até o início dos anos 1990. A regência não era vista como uma opção para as mulheres. “Sempre tive interesse em reger”, disse ela ao Times. “Mas é claro que há razões históricas pelas quais eu estava hesitante no início.”
A situação mudou. No final dos anos 1990, Mälkki mudou do violoncelo para a regência. O site da Music Finland a nomeia como “uma campeã entre compositores contemporâneos ousados”. No mesmo artigo, ela diz: “É verdade que sou mais conhecida pela música do século XX e contemporânea. Mas eu gostaria de me ver como alguém que pode fazer as duas coisas, como sempre fiz.”
Awak Kuier
A jogadora de basquete Awak Kuier (nascida em 2001) cresceu na cidade de Kotka, no sul da Finlândia. No final da adolescência, sua família se mudou para a área de Helsinque para que ela pudesse estudar na Mäkelänrinne Sports High School, onde o programa ajuda os atletas a se manterem atualizados tanto nos estudos quanto nos esportes.
Kuier estreou na seleção finlandesa aos 16 anos, e seu atual clube é o Virtus Eirene Ragusa, uma equipe líder na primeira divisão da Itália. Ela é considerada uma das melhores perspectivas para a WNBA nos Estados Unidos. Depois de assinar o contrato italiano no verão de 2020, Kuier disse à emissora nacional finlandesa Yle: “Acredito que posso me desenvolver lá e ir muito longe”. No que diz respeito à América do Norte, ela disse: “Meu objetivo pessoal é estar pronta para a WNBA em dois anos”.
Enni Rukajärvi
Os finlandeses gostam de esportes de inverno, e a snowboarder Enni Rukajärvi (nascida em 1990) deu aos fãs muitos motivos para torcer. Especializada na prova de slopestyle, na qual a pista de esqui inclui obstáculos embutidos como saltos e trilhos, Rukajärvi conquistou quatro medalhas nos X Games de Inverno (uma de ouro, uma de prata e dois bronzes). Ela conquistou a prata no slopestyle nas Olimpíadas de Inverno de 2014 e o bronze em 2018. Nos campeonatos mundiais, ela ganhou o ouro no slopestyle e a prata no big air, um evento que envolve a realização de manobras no ar depois de um salto.
Rukajärvi disse que tenta usar a publicidade que recebe como atleta para chamar a atenção para causas nobres, como a proteção do meio ambiente. Ela é uma embaixadora da Protect Our Winters, uma organização que faz campanha e aumenta a conscientização a fim de salvar o inverno – e os esportes de inverno – das mudanças climáticas.
Em um artigo de dezembro de 2020 no Helsingin Sanomat, o maior periódico da Finlândia, Rukajärvi expressou admiração pela geração mais jovem em seu esporte. Ela disse que as crianças novas estão dando saltos e adquirindo habilidades no meio da adolescência, que ela não tinha até os 19 ou 20 anos. Acreditamos que ela deve ter sido pelo menos parcialmente responsável por inspirar essas crianças.
Helene Schjerfbeck
A artista Helene Schjerfbeck (1862–1946) por vezes foi ofuscada por seus contemporâneos do sexo masculino. Ela não deveria ter sido, mas, nos últimos anos, novos públicos descobriram o apelo de seu trabalho.
Anna-Maria von Bonsdorff foi curadora de uma exposição – que ocorreu no período pré-corona – de pinturas de Schjerfbeck no Museu de Arte Ateneum de Helsinque. A exibição atingiu a maior contagem média diária de visitantes de qualquer exposição na história do museu. “Ela parece de alguma forma contemporânea”, von Bonsdorff disse a ThisisFINLAND. “O uso de materiais populares atrai o público mais jovem.” Von Bonsdorff diz que Schjerfbeck é considerada a pintora número um da Finlândia.
Minna Canth
Amplamente reconhecida como a primeira autora feminina importante da Finlândia, Minna Canth (1844-97) escreveu contos, novelas, peças e artigos. Ela recebeu admiração por representar mulheres de forma realista e questionar as normas patriarcais que limitavam suas oportunidades. Canth defendeu os direitos das mulheres, o feminismo e as causas sociais.
“De certa forma, ela foi a primeira feminista da Finlândia”, diz Minna Rytisalo, professora e autora de um romance biográfico sobre Canth. “Ela acreditava que as meninas deveriam ter direito à educação … para aprender coisas como ciências, natureza e economia.”
Embora a Finlândia tenha dado grandes passos para alcançar a igualdade de gênero desde a época de Canth, ela continua relevante. “Os direitos nunca são escritos em pedra”, diz Rytisalo. “Estabelecer um direito não garante [isso] para sempre.”
O legado de Canth inspirou gerações de escritoras feministas na Finlândia. Rytisalo diz que todos nós podemos aprender com a atitude de Canth: “Ela acreditava em fazer as suas próprias coisas e saber em seu coração o que é a coisa certa a se fazer, mesmo quando o mundo diz que não é”.
Maryan Adbulkarim
Nascida em 1982, Maryan Abdulkarim é uma escritora, jornalista e feminista premiada que cresceu na cidade de Tampere, no centro-oeste da Finlândia. Em 2019, ela recebeu o prêmio Minna Canth, concedido pela Finnish Fair Foundation a uma pessoa que “sacode nossa sociedade”.
O júri a considerou “corajosa ao escrever e conversar sobre a sociedade” e disse que ela “defende incansavelmente as mulheres e as minorias e destaca a desigualdade”. Em 2021, ela recebeu a Medalha de Helsinque por um trabalho que ajudou a capital a se tornar mais consciente das mudanças que uma cidade diversificada exige. (Abdulkarim também escreveu para ThisisFINLAND.)
Miina Sillanpää
Nascida na pobreza, Miina Sillanpää (1866–1952) cresceu e se tornou membro do Parlamento e a primeira mulher ministra do governo da Finlândia. Ela passou grande parte de sua vida engajada no ativismo civil e na defesa social, ajudando a causa das mulheres, dos idosos e dos desfavorecidos, motivada por seus valores de justiça e igualdade.
Ela foi ativa na luta pelo sufrágio feminino no início de 1900, e depois que as mulheres na Finlândia ganharam o direito de votar e se candidatar, em 1906, ela foi uma das primeiras 19 mulheres eleitas para o Parlamento em 1907. MP por 38 anos; de 1926 a 1927 ela atuou como ministra de Assuntos Sociais.
Em 1898, ela ajudou a fundar a Associação de Servos, assumindo a direção em 1901. Na década de 1930, ela participou da fundação de uma organização de abrigos para mulheres solteiras e seus filhos, superando a resistência cultural de longa data à ideia.
Meeri Koutaniemi
A fotógrafa e jornalista Meeri Koutaniemi (nascida em 1987) viajou a dezenas de países para documentar “histórias convincentes de luta e resiliência”, como ela diz em seu site. Ela foi nomeada Fotógrafa de Imprensa do Ano duas vezes na Finlândia e recebeu vários outros prêmios lá e no exterior. Seu trabalho se concentra no “lado humanitário dos conflitos, deslocamento e discriminação”, diz ela.
Os temas de Koutaniemi incluem refugiados sírios que escaparam pela fronteira; Refugiados Rohingya de Mianmar; Refugiados chechenos na Finlândia; o estilo de vestir único do povo Herero da África Austral; Transexuais HIV-positivos no México; o destino das meninas em uma cultura rural do Quênia que pratica a mutilação genital feminina; e o progresso de Uganda em interromper a prática.
Kaija Saariaho
A compositora de música clássica, Kaija Saariaho (1952–2023) criou peças sob encomenda para vários conjuntos, incluindo o Quarteto Kronos, a Filarmônica de Nova York e a Ópera Nacional Finlandesa. Sua composição L’amour de loin ganhou um Grammy de Melhor Gravação de Ópera em 2011. Ela também recebeu o Prêmio Sibelius da Fundação Wihuri, o Prêmio de Música Polar, o Prêmio de Música do Conselho Nórdico, o Prêmio Ars Electronica, o Prêmio de Fronteiras do Conhecimento da Fundação BBVA e muitos outros.
Então, como você descreve a música de Saariaho? Ela usa a análise computacional na criação de estruturas musicais, incluiu música eletrônica em suas peças e fundiu o mundo visual com o mundo musical. Escrevendo sobre sua ópera Adriana Mater, na New Yorker em 2006, Alex Ross colocou assim: “Os instrumentos clamam em extremos altos ou baixos; os tons são dobrados ou quebrados; os violinos são curvados com tal intensidade que gemem… É o tipo de som que retém os ouvidos e aumenta o cérebro; as informações chegam em todas as frequências ”.
No entanto, na frase seguinte, ele acrescentou que “suas peças muitas vezes trazem aparições de rara e pura beleza”.
Pelo time do ThisisFINLAND, março de 2021