Dois músicos finlandeses descrevem seu país de ideias malucas

Um casal bem diferente: dois músicos finlandeses que curtem quebrar as barreiras da música.

Dalia Stasevska é uma regente talentosa cuja carreira segue rumo as alturas. Lauri Porra é um baixista que fez turnês pelo mundo como membro da banda de power metal Stratovarius entre outras. Durante uma das turnês pelo Brasil, Lauri descobriu que seu nome em português é um palavrão bem cabeludo. Sem perder o senso de humor, ele não perde a piada e sempre “brinca” com o fato na hora de seus solos nos shows. Os brasileiros se divertem.

Ele também é um compositor que combina com flexibilidade os dispositivos estilísticos da orquestra sinfônica clássica com outros estilos musicais. Ele se sente à vontade com jazz, cinema e música de concerto.

Dalia é a primeira profissional musical de sua família. Lauri é um músico de quarta geração.

“Admiro o entusiasmo da Finlândia por ideias malucas”, diz ele. “A Finlândia se expressa em conceitos artísticos originais e fornece ao mundo combinações de gêneros inteiramente novas, seja um cantor de ópera em uma banda pesada ou um violoncelista tocando música pesada.”

“Os finlandeses estão sempre inventando algo estranho, uma reviravolta maluca que é realmente emocionante”, acrescenta Dalia.

Raízes musicais fortes

Diante de um padrão de papel de parede floral, uma mulher em uma camisa branca olha para a câmera.

Dalia Stasevska continua na tradição dos principais maestros finlandeses, como Paavo Berglund, Leif Segerstam, Osmo Vänskä, Jukka-Pekka Saraste, Esa-Pekka Salonen, Hannu Lintu, Susanna Mälkki, Sakari Oramo, Mikko Franck, Pietvari Inkinen, Santtu-Matias e Klaus Mäkelä.Foto: Jarmo Katila

Dalia chegou à Finlândia aos cinco anos. Suas raízes familiares estão na Ucrânia e na Lituânia. Começou como violinista, mas durante os estudos na Academia Sibelius mudou para a viola e acabou como maestrina.

“Meu avô foi um escultor famoso na Ucrânia e meus pais são artistas visuais, mas a família aprecia outras disciplinas culturais”, diz ela. “Papai até estudou piano junto com as artes visuais. Era perfeitamente lógico que colocassem um violino na minha mão e dissessem que essa será a sua profissão. Eles estavam certos. Adorei tocar desde o primeiro momento. Era um novo mundo para mim, do qual meus pais nada sabiam.”

Dalia estudou regência com dois maestros finlandeses lendários, Jorma Panula e Leif Segerstam. Ela se formou com a maior distinção na Academia Sibelius em 2012.

Tem estado ocupada regendo nos países nórdicos e em outras partes da Europa. No início de 2019, se tornou a principal regente convidada da BBC Symphony Orchestra, uma das orquestras mais prestigiadas do mundo.

A mãe de Lauri é uma oboísta aposentada, seu pai um músico de jazz amador. Seu avô era maestro. O pai de sua avó foi o famoso compositor finlandês Jean Sibelius, talvez o sinfonista mais significativo do século 20.

“Para mim foi construtivo nascer em uma família na órbita de um grande compositor”, diz ele. “Acima de tudo, significou crescer em um ambiente que reverenciava a arte e a música, e onde as pessoas entendiam que a música pode ser uma profissão. Parti em busca de minha identidade por meio de instrumentos e gêneros diversos. Eventualmente, encontrei meu próprio lugar nele.”

Nos últimos dez anos, Lauri compôs mais para orquestra tradicional. Escreveu músicas para oito filmes e inúmeras séries de TV. No álbum Entropia, lançado em 2018, os solistas da orquestra sinfônica são o próprio Lauri, no baixo elétrico, e o rapper finlandês Paperi-T.

O grande evento do outono de 2019 foi a primeira apresentação pública da Flyover Symphony, composta para a orquestra sinfônica e a banda Flyover de Lauri.

“Sou disciplinado na minha abordagem ao trabalho e a maior parte da minha composição segue o princípio de aprender ganhando”, diz ele. “Felizmente, tenho bons colegas ao meu redor para explicar como fazer as coisas que quero fazer.

“É claro que em casa temos um diálogo constante. Ouvimos a música que um ou outro de nós acha interessante e depois conversamos sobre isso.”

Fronteiras de gênero são inúteis

Um homem com uma camisa preta e uma jaqueta preta olha para a câmera, com uma mão no peito e a outra na barriga.

A composição major mais recente de Lauri é o concerto “Entropia” para orquestra e baixo elétrico (2018). A composição reúne dois elementos muito distintos: uma orquestra sinfônica e um contrabaixo.
Foto: Jarmo Katila

Porra has nothing against modern concert music derived from theoretical origins. At the same time, he thinks it is refreshing that there are also works that draw on everything else that has happened in music over the last century.

“They are really not mutually exclusive. It’s fantastic to live at a time when you can dream up wonderful things that someone will agree to play and others will be interested to come and hear.”

Stasevska also rejects the need to categorise herself as a maker of “serious” classical music only.

“I want to make interesting music and projects,” she says. “I want to broaden the boundaries of good music. Film music can coexist with symphonies and so can game music or folk music. And there’s no need for confrontation with artists who specifically want to conduct, say, Brahms or Bruckner. That is fantastic music, too.

“Art is an enormous playground containing a vast amount of talent. Why restrict yourself? The main thing is that there are interesting productions, ideas and people with whom we can try to create common narratives and experiences.”

Uma nação de escolas de música

A Finlândia tem quase 100 faculdades de música, uma rede que oferece a 60.000 alunos, desde a pré-escola até jovens adultos, a oportunidade de educação musical normativa com instrutores treinados. Seu objetivo é facilitar a recreação musical para toda a vida, mas uma pequena porcentagem dos alunos se inscreve a cada ano para estudos profissionais.

As faculdades de música são geralmente mantidas por municípios ou associações com o apoio do governo local e central. Seu trabalho é complementado em vários níveis por instituições de ensino públicas e privadas.

Os profissionais da música são formados em uma ampla rede de conservatórios. O nível mais alto é fornecido pela renomada Sibelius Academy, fundada em 1882 e agora parte da Universidade de Artes de Helsinki.

Por Jussi-Pekka Aukia, Revista ThisisFINLAND 2020