Numa viagem de esqui pela Lapônia, um jornalista canadense se maravilha com as nuances magicamente intensas de luz e sombra.
Pousamos no Aeroporto de Kittilä, ao meio dia e meia. Luzes douradas iluminam a pista imersa na paisagem azul da terra. O céu está cinza escuro e parece que a luz do dia é sobretudo o reflexo da neve, que tudo cobre.
As árvores se assemelham a mágicas criaturas de Narnia, seus ramos curvados e gelados pelo peso da neve. De alguma forma, eu esperava por 24 horas de escuridão, um quarto sem janelas. Está coberto, mas indiscutivelmente, é dia.
Céu índigo
Estamos no auge do inverno e me dirijo a Äkäslompolo, uma vila à sombra do centro de esqui de Ylläs, sobre o paralelo 69 na Lapônia Finlandesa. Nesta época do ano, o sol oficialmente aparece às 10:30 da manhã e se põe à 13:30. Quando chegamos à cabine, por volta das 15:00, o céu está fortemente índigo.
É a minha maior experiência com o “kaamos”, palavra finlandesa para os dias escuros de inverno e não sei exatamente como reagirei. Um pouco mais ao norte, o sol não aparece acima do horizonte nesta estação, por um par de meses.
Tendo crescido no Canadá e com seis anos de experiência nos invernos de Helsinque, me considero melhor equipado do que a maioria das pessoas para lidar com a falta de sol na Lapônia. Outros são menos preparados. “Você fica pensado que o sol vai surgir, mas isto simplesmente não acontece”, diz Edward Ananian-Cooper, visitante de Adelaide, na Austrália.
Paisagem brihante
Entre o jetlag e a escuridão, dormir é o mesmo que usar um sapato dois números maior, que entre e sai do meu pé. Acordo às três da manhã e não consigo adormecer até as seis. Me desperto novamente com a luz e penso que devem ser pelo menos 11 horas. Em pânico, como se atrasado para o trabalho, me ocorre que terei apenas duas ou três horas de luz do sol.
Nós nos decidimos e saimos rumo ao teleférico do outro lado da montanha. Enquanto dirigimos, o sol repentinamente sai das nuvens, revelando um céu azul da cor de um ovo de tordo e a paisagem brilhante com a neve. É tão lindo que nos juntamos a outros carros parados num belvedere. Esta breve amostra faz com que todos corram para uma pista ou morro de esqui mais próximo ou para um passeio de moto de neve ou de trenó puxado por cães. É um paraíso de inverno.
Às seis da tarde, as nuvens baixas refletem as luzes da cidade, numa misteriosa imitação de um por do sol do sul da Finlândia.
Trilhas geladas
Ao longo das estradas finos postes refletivos, alaranjados, são fincados nas valetas em setembro, para que os varredores de neve possam achar a estrada. As guias, nos dois lados, têm a altura do meu joelho, porém são de outra forma, mescladas e imperceptíveis da branca neve que cobre a estrada.
Os postes também limitam o lago gelado, onde trilhas de esqui e marcas das motos de neve se estendem por todas as direções, criando vias seguras. Acima, eu identifico a Big Dipper, a Grande Concha, e o Cinto de Orion. Ao longe, do outro lado do lago, ouço os sinos da igreja local, um prédio moderno, debruçado sobre uma das poucas casas de madeira que sobrevive na vila.
Um dia, telefono para minha família em casa, no Canadá. Estão 35 graus mais frios na ensolarada Alberta do que por aqui. Não consigo parar de rir.
Por Carey Toane, janeiro de 2009