Dezembro, o mês da liberdade finlandesa

O Dia da Independência (Itsenäisyyspäivä) é celebrado com muita inspiração na Finlândia a cada 6 de dezembro. Confira!

Uma das celebrações mais inspiradoras da Finlândia ocorre no dia 6 de dezembro de cada ano: o Dia da Independência (tente pronunciar em finlandês: Itsenäisyyspäivä). O país se tornou independente em 1917. Nosso repórter americano reconta as experiências que viveu nas celebrações deste feriado tão importante.

Neste feriado, o que considero mais interessante é a combinação de solenidade e diversão. Por exemplo, a parte solene é repleta de discursos patrióticos, visitas a cemitérios, homenagens em memoriais de guerra e da realização de missas especiais. Estudantes de Helsinque usam os tradicionais quepes brancos enquanto carregam tochas. A passeata começa no Cemitério Hietaniemi e vai até a Praça do Senado, onde todos ouvem discursos e música. O presidente premia milhares de pessoas com medalhas e condecorações por suas conquistas notáveis.

Além disso, as pessoas colocam velas azuis e brancas nos parapeitos de suas janelas. Essas cores também são as escolhidas por padarias para enfeitar doces e salgados, além de estarem presentes na decoração de lojas e nas bandeirinhas em exibição por todos os lados. A TV apresenta canções patrióticas, debates aquecidos e o lendário filme “O Soldado Desconhecido” (em finlandês: Tuntematon sotilas), uma história emocionante baseada no romance de mesmo nome de Väinö Linna, que retrata o drama da 2ª Guerra Mundial.

O bom humor reina absoluto

Durante a recepção presidencial do dia da Independência em 2015, o veterano de guerra Veikko Ranta, então com 97 anos de idade, cumprimenta o Presidente Sauli Niinistö enquanto a Primeira-dama Jenni Haukio observa. Ranta serviu durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante a recepção presidencial do dia da Independência em 2015, o veterano de guerra Veikko Ranta, então com 97 anos de idade, cumprimenta o Presidente Sauli Niinistö enquanto a Primeira-dama Jenni Haukio observa. Ranta serviu durante a Segunda Guerra Mundial.Foto: Gabinete do Presidente da República da Finlândia

Em geral, o clima de bom humor reina entre os finlandeses neste dia. Isso significa que uma refeição comemorativa com a família e os amigos é algo bastante comum. No meu primeiro ano de celebração da independência da Finlândia, fui para um belo restaurante com alguns colegas estudantes e comemos deliciosos pratos finlandeses.

Durante a refeição, o assunto era o significado da liberdade e a história do país. Antes de sua independência, a Finlândia foi um Grão-ducado autônomo no Império Russo durante 108 anos, e antes disso, pertenceu ao Reino da Suécia. Durante a 2ª Guerra Mundial, os finlandeses tiveram que lutar por sua liberdade.

Além disso, também discutimos assuntos mais amenos, nos deliciamos com os pratos servidos e apreciamos um pouco de vinho. Para mim, este encontro de estudantes foi uma experiência bastante inspiradora e elegante que deveria se repetir.

No Dia da Independência, muitos eventos formais e informais são realizados em todo o país. Porém, o grande destaque ocorre à noite, quando o presidente realiza a Recepção do Dia da Independência, um evento de gala para convidados VIP e outras personalidades. Entre os felizardos estão: oficiais militares do mais alto escalão, políticos, oficiais de polícia e diplomatas, além de atletas, personalidades do entretenimento e ativistas proeminentes. O evento é transmitido pela rede de TV nacional e aparentemente é assistido por metade da população.

Os repórteres fazem comentários sobre os 2000 convidados ao passo que eles fazem fila para apertar a mão do presidente e da primeira-dama antes de entrar. Em seus lares, as pessoas complementam os comentários com suas próprias observações: “Que vestido maravilhoso o dela!”, “Ele não está nem usando gravata!” ou ainda “Ela perdeu bastante peso!” e “Quem é aquela mulher com ele?”.

Fascinação e especulação

Centenas de convidados conversam, bebem, dançam e posam para fotos da imprensa no Palácio Presidencial durante a recepção anual do Dia da Independência.Foto: Gabinete do Presidente da República da Finlândia

Mais tarde, a banda começa a tocar e os telespectadores podem observar os convidados dançando, comendo e bebendo. Repórteres circulam pela festa entrevistando famosos e fazendo pergunta sobre o que acham sobre a independência. Todos costumam dar boas respostas, porém nada que mereça destaque em capas de revistas ou manchetes de jornal.

Após um determinado momento, as câmeras devem ser desligadas e a imprensa deve encerrar as atividades. A partir daí, o que acontece é de grande especulação em todo o país, e os tablóides passam a semana seguinte agraciando seus leitores com fofocas do baile (fofoca das boas, diga-se de passagem).

A esposa de um amigo é tão fascinada pela Recepção Presidencial do Dia da Independência que um dia insistiu que eles deveriam chegar o mais perto possível do Palácio Presidencial para ver os famosos saindo de seus táxis.

“Não é o máximo?”, ela perguntou. “Bem, deve ser o máximo quando não está frio nem nevando tanto”, ele respondeu. Ela então retrucou: “Ah, para de ser reclamão! Nossa, olha quem está saindo daquele carro!” E assim foi a noite do casal.

Celebrações alternativas

Estudantes de Helsinque usam os tradicionais quepes brancos enquanto carregam tochas. A passeata é iniciada no Cemitério Hietaniemi e vai até a Praça do Senado, onde todos ouvem discursos e música.

Estudantes de Helsinque usam os tradicionais quepes brancos enquanto carregam tochas. A passeata é iniciada no Cemitério Hietaniemi e vai até a Praça do Senado, onde todos ouvem discursos e música.Foto: Pauli Antero/Flickr, cc by nc nd 2.0

Ao contrário do que relatei até aqui, algumas pessoas não gostam muito da recepção presidencial. Elas se reúnem do outro lado do palácio com placas de protesto e bradam contra desigualdades sociais ou outros tópicos políticos da atualidade. A quantidade de protestantes costuma ser bem pequena.

Há também aqueles que organizam recepções alternativas e danças. Alguns organizam seus próprios jantares do Dia da Independência, com direito a convidados em trajes de gala, pratos suntuosos e vinho espumante. Tudo isso com a transmissão ao vivo da recepção presidencial na TV, é claro.

Nas escolas, as crianças têm sua própria Gala do Dia de Independência. Em Helsinque, o prefeito convida alunos da quarta série para o Finlandia Hall, famoso prédio projetado por Alvar Aalto. Minhas filhas usaram vestidos elegantes e exibiram penteados impecáveis feitos especialmente para a ocasião. As meninas estavam acompanhadas de seus pares, igualmente elegantes (alguns dos meninos provavelmente usavam gravata pela primeira vez). Foi um evento e tanto para crianças que ainda tinham entre dez e onze anos.

Todos têm sua própria maneira de celebrar a independência da Finlândia. O que realmente importa é que o país fez um grande esforço para conquistar sua liberdade e lutou com unhas e dentes para mantê-la. Desde pequenos, os finlandeses aprendem que autodeterminação nunca deve ser subestimada, e são lembrados disso a cada dia 6 de dezembro.

Por Russell Snyder, dezembro de 2014