Para algumas mulheres finlandesas renomadas, os encontros regulares nos clubes de sauna são uma fonte de renovação e força.
Ao entardecer de um lindo, porém fresco, dia de primavera, três mulheres estão reunidas, compartilhando as suas experiências e discutindo atualidades. Todas elas são formadoras de opinião da sociedade finlandesa: Sirkka Hämäläinen foi presidente do Banco da Finlândia e membro do Conselho Executivo do Banco Central da Europa, sendo atualmente membro dos conselhos de várias empresas e organizações; Raija-Sinikka Rantala tem uma carreira marcante como diretora de teatro, administradora e professora, assim como Helena Hiilivirta a recém nomeada diretora do Centro de Música de Helsinque que brevemente será inaugurado. Elas estão fazendo o que todas elas e a sua rede de contatos fazem há mais de 20 anos, reunir-se para um encontro conhecido como a “sauna das senhoras”.
Apoio de seus pares e descanso
Tudo começou em 1987, quando Sirkka Hämäläinen ocupava diversos cargos de responsabilidade no Banco Central da Finlândia.
“Eu precisava de apoio e de pessoas com quem conversar”, lembra. “Parecia que toda a minha vida girava em torno da economia e do meu trabalho e eu ansiava por ouvir o ponto de vista de outros segmentos da sociedade.”
Então ela e algumas amigas formaram uma rede que passou a se encontrar várias vezes, sempre na primavera e no outono. Em geral o programa incluía uma apresentação sobre um assunto da atualidade e uma conversa descontraída, enquanto faziam uma sauna juntas, da mesma forma que os seus colegas de grupos masculinos sempre o fizeram.
“Quando começamos a fazer estas reuniões, o prédio do Banco da Finlândia não contava com o equipamento necessário para mulheres, então Sirkka começou a equipá-lo para atender a ala feminina”, lembra Raija-Sinikka Rantala.
O círculo de mulheres foi aumentando, à medida que aquelas que haviam sido convidadas para fazer uma apresentação eram convidadas para participar do grupo.
“Eu me juntei ao grupo em 1994. Foi muito bom poder descansar em boa companhia após um dia de trabalho”, diz Helena Hiilivirta.
Nos últimos anos, a “sauna das senhoras” reuniu cerca de 20 mulheres dos círculos mais influentes do mundo das finanças, das artes, das ciências, da igreja e de outros segmentos da sociedade. Apenas um homem foi convidado a falar. Em outra ocasião, quando o programa incluía treinar o uso de armas de fogo, um homem foi convidado para orientar as mulheres, junto com uma diretora executiva.
As mulheres tomam conta da Europa
A “sauna das senhoras” também direcionou os seus recursos para a arena internacional. Nos anos 90, o grupo organizou eventos públicos no exterior, primeiro na Villa Lante, o centro cultural finlandês em Roma, em seguida no Instituto Finlandês em Atenas e, por último, em Frankfurt, durante o primeiro mandato da primeira presidência finlandesa da UE. Estes foros se concentraram na sociedade, cultura, artes, política de segurança e economia da Finlândia.
“O público não sabia que todos os palestrantes seriam mulheres até chegar ao local do evento. Deveriam ter visto a expressão no rosto das pessoas!”, recorda Hämäläinen com um sorriso.
Ao longo dos anos, a frequência das tardes de sauna vem sendo reduzida, porém o grupo mantém contato.
“Alguns suspeitavam que fossemos membros de uma espécie de sociedade secreta, à medida que éramos nomeadas para cargos administrativos,”, diz ela. “Porém, na realidade, isto resultou das características pessoais de cada uma de nós.”
As mulheres devem ser incentivadas a assumir postos de liderança
Segundo os padrões internacionais, a Finlândia pode orgulhar-se de ter muitas mulheres em cargos de liderança na sociedade. Quais são os fatores por trás da liderança das mulheres e como foi que estas mulheres alcançaram estes postos?
“Eu gostaria de salientar a importância dos meus superiores,” diz Hämäläinen. “O apoio deles foi um fator crucial para galgar até estes postos de liderança.”
Quando ela apresentou a sua proposta para preencher a vaga de chefe do Departamento de Economia do Ministério das Finanças e percebeu que o governo não apoiaria a sua pretensão incondicionalmente, ela desistiu.
“O meu chefe no Banco da Finlândia na época, Seppo Lindblom, disse que se eu era incapaz de enfrentar a concorrência, então jamais poderia reclamar de que na Finlândia as mulheres não conseguiam ocupar cargos de liderança.”
O peso da responsabilidade – e do poder
Estas mulheres concordam que aquelas que assumem mais responsabilidade são naturalmente indicadas para cargos de maior responsabilidade. Na visão delas, as mulheres tendem a cumprir as suas responsabilidades com maior precisão e pontualidade do que os homens. Contudo, elas têm mais medo do que os homens de assumir riscos e falhar.
“Nos dias de hoje, as mulheres dirigem muitos teatros na Finlândia, pois eles são organizações que dão muito trabalho”, alega Raija-Sinikka Rantala.
É claro que estas mulheres também enfrentaram preconceitos.
“Lembro que quando me apresentei para o posto de superintendente da Orquestra Sinfônica de Lahti, eu tinha menos de 30 anos de idade, meu cabelo era ruivo e eu estava usando um casaco colorido”, diz Hiilivirta rindo. “O entrevistador me perguntou como eu pretendia ocupar um cargo de gerência se não tinha prestado o serviço militar”, como a maioria dos homens finlandeses, pois o alistamento é obrigatório.
“Muitos homens acham que as mulheres devem estar constantemente radiosas e satisfeitas. Quando assumi o cargo de Governadora do Banco da Finlândia durante uma crise, um executivo graduado perguntou-me porque eu sempre parecia tão séria na televisão e jamais sorria – eu acabara de ser entrevistada em uma situação em que eu previra um aumento substancial do desemprego,” diz Hämäläinen. “Perguntei-lhe se ele sorriria se tivesse que anunciar na televisão que a Finlândia fora atacada!”
O equilíbrio entre a família e o trabalho
Ao contrário dos homens, sempre perguntam às mulheres que ocupam cargos de liderança como conseguem equilibrar um posto exigente com a vida de família. Cada uma destas mulheres tem uma família.
“Não foi fácil quando meu filho era pequeno,” diz Rantala. “Lembro da correria quando ia para casa para preparar o jantar e depois tinha de ir ao teatro para os ensaios à noite.”
“O apoio da família é importantíssimo”, acrescenta Hiilivirta. “O meu marido foi criado em um ambiente no qual a sua mãe tinha um papel importante fora de casa. Assim, a minha ascensão a cargos de liderança não foi difícil para ele.”
Cada uma destas mulheres foi criada com uma forte mensagem de que a mulher deve ter a sua própria carreira e nunca depender financeiramente de um homem.
A maternidade é o melhor treinamento para o exercício da liderança
“As questões práticas sempre podem ser contornadas, é mais importante influenciar as atitudes das mulheres,” diz Hämäläinen. “As mulheres devem ser estimuladas a assumir riscos e responsabilidades. E quando ocupamos um cargo de liderança, temos que aceitar que cometeremos erros e enfrentaremos críticas. Será necessário ter uma autoconfiança saudável para suportar isso.”
Na visão dela, o melhor treinamento para o exercício da liderança não está nos quarteis, mas na maternidade.
“É muito mais difícil lidar com um filho que está atravessando aquela fase terrível dos dois anos de idade do que lidar com insubordinados no exército. Os pais estão sempre empenhados em ajudar seus filhos a florescer, a tirar o que há de melhor neles – do mesmo modo que um bom administrador o faz,” observa.
Estas mulheres sentem satisfação ao observar que mais e mais mulheres têm uma chance de atingir o seu potencial nos postos de liderança da sociedade. Por outro lado, estão preocupadas com operações de visão acanhada impulsionadas pelos últimos relatórios trimestrais e o consequente aumento de contratos em curto prazo.
“Afinal, o indivíduo e o seu bem-estar são o objetivo de toda atividade econômica,” assinala Hämäläinen. “Em longo prazo, cuidar das pessoas é a melhor maneira de sustentar a saúde e a competitividade econômicas.”
Por Salla Korpela, julho de 2009