A Finlândia é um país fácil de visitar. Os costumes e o comportamento dos finlandeses são claramente europeus, com poucas variações regionais, e as suas atitudes são liberais. É pouco provável que uma pessoa em visita ao país cometa uma gafe social ou quebra de etiqueta fundamental que prejudique seriamente o seu relacionamento com os seus anfitriões. Os finlandeses encaram tais quebras de etiqueta com naturalidade, quando cometidas pelos seus concidadãos e com compreensão ou diversão, quando cometidas por forasteiros. Os códigos comportamentais não são severos e a reputação de uma pessoa – boa ou má – é construída ao longo do tempo, em consequência de atos pessoais e não pela observância de normas ou padrões. É difícil estabelecer ou destruir uma reputação na Finlândia devido a uma única gafe social.
Na realidade, há pouquíssimas considerações a serem feitas com relação a aspectos específicos da cultura dos finlandeses, afora o valor das palavras. Na Finlândia as pessoas escolhem cuidadosamente o que vão dizer, pois atribuem muita importância às palavras – a finalidade destas é transmitir uma mensagem. Isto se reflete na tendência de falar pouco e evitar conversa “desnecessária”. Bem ao estilo do provérbio chinês: “A fala deve ser melhor do que o silêncio. Se não o for, mantenha-se calado”.
Identidade
Os finlandeses têm um forte sentimento de identidade nacional. Este sentimento tem as suas raízes na história do país – especificamente, no que diz respeito à dignidade das suas realizações durante as guerras e às suas conquistas meritórias na área de esportes – e hoje ele é alimentado pelo orgulho dos finlandeses quanto à sua habilidade com tecnologias de ponta. Os finlandeses são conscientes da realidade e, portanto, não esperam que estrangeiros saibam muito sobre o seu país e sobre os finlandeses do passado ou do presente. Assim, ficarão felizes se um visitante estiver familiarizado com alguns marcos da história finlandesa ou com as carreiras esportivas de Paavo Nurmi e Lasse Viren. Os finlandeses ficarão contentes se um visitante souber algo a respeito das conquistas dos pilotos finlandeses de rally e das estrelas de Fórmula 1, ou que os jogadores de futebol Jari Litmanen e Sami Hyypiä são finlandeses. Os finlandeses são orientados para a cultura em geral, e naturalmente acreditarão que visitantes que pensam como eles não apenas saberão quem foi Sibelius, mas também quem são os compositores contemporâneos Kaija Saariaho e Magnus Lindberg, e os regentes Esa-Pekka Salonen, Jukka-Pekka Saraste, Sakari Oramo e Osmo Vänskä. Embora os finlandeses saibam que é comum acreditar-se que a Nokia é uma companhia japonesa, eles perdoam este equívoco, porém com um sentimento de pena. Orgulham-se de Linus Torvalds, o inventor do Linux, ser finlandês.
Os visitantes devem, também, estar preparados para deparar-se com o outro lado da personalidade dos finlandeses: eles são cronicamente inseguros quanto à percepção global das conquistas desta nação ao Norte da Europa. Os finlandeses gostam muito de ler tudo o que é escrito a respeito deles no exterior, e o visitante não deve sentir qualquer desconforto quando lhe perguntarem repetidamente o que pensa da Finlândia. Entretanto, embora os finlandeses não hesitem em criticar o seu próprio país, eles não gostam, de modo geral, que os visitantes o façam.
Religião
Ao visitar a Finlândia não há com o que se preocupar no que diz respeito a questões religiosas, até mesmo com relação a assuntos que podem ser particularmente sensíveis em outras culturas. A maioria dos finlandeses pertence à Igreja Evangélica Luterana (cerca de 83%), enquanto apenas 1.1% pertence à Igreja Ortodoxa. De modo geral, as pessoas adotam uma postura razoavelmente secular. Não obstante, os finlandeses têm a Igreja e os seus sacerdotes em grande estima e as posições religiosas pessoais são respeitadas. É difícil perceber qualquer diferença entre os fiéis e o resto da população no dia a dia, salvo talvez a opção dos fiéis por levar uma vida mais abstêmia.
Gênero
Há na Finlândia um alto grau de igualdade entre os sexos. Isto é fácil de observar pelo grande número de mulheres que ocupam cargos de responsabilidade na política e em outros setores da sociedade.
Há também diversas mulheres que ocupam cargos acadêmicos e, nos últimos anos, executivos que visitaram a Finlândia a negócios também se depararam com um número crescente de membros do sexo “mais frágil” do outro lado da mesa de negociação. A Igreja Evangélica Luterana da Finlândia permite a ordenação de mulheres. Há mulheres sacerdotes em diversas paróquias.
Atitudes chauvinistas ou condescendentes em relação às mulheres são, em geral, consideradas inaceitáveis, embora persistam na prática. As mulheres apreciam o cavalheirismo tradicional, porém, em última instância, avaliam os homens com base na sua atitude perante a igualdade. As mulheres costumam ser financeiramente independentes e podem oferecer-se para, por exemplo, pagar a sua parte de uma conta de restaurante. Os homens podem, educadamente, recusar tal oferta, porém aceitá-la seria igualmente polido.
No âmbito internacional, ou ao usar idiomas estrangeiros, especialmente o inglês, os finlandeses já se acostumaram a uma linguagem politicamente correta, deixando de lado expressões tradicionalmente usadas no masculino (por ex.: Diretor Presidente) e/ou adotando os pronomes na terceira pessoa do singular nos dois gêneros (ele/ela) quando possível. No idioma finlandês o problema da escolha do gênero do pronome não existe. O pronome na terceira pessoa do singular hän cobre ambos os gêneros. Há também muitos substantivos com o sufixo –mies (homem) que não são considerados como específicos do gênero masculino. Considera-se apropriado que os visitantes adotem a prática comum do idioma que estiverem usando.
Conversando
O conceito de que os finlandeses são um povo reservado e taciturno é antigo, não sendo tão válido hoje como no passado e, certamente, não se aplicando às gerações mais jovens. Não obstante, é apropriado dizer que os finlandeses têm uma atitude diferenciada com relação às palavras e à fala: as palavras são levadas a sério e as pessoas respondem por aquilo que falam. “Agarre o homem pelas palavras e o touro pelos chifres”, diz um ditado finlandês. O finlandês pensará cuidadosamente no que ele (ou ela) vai dizer e esperará o mesmo dos outros. Ele (ou ela) considerará que acordos e promessas verbais não só o vinculam como a outra parte também, e também considerará que o valor das palavras permanecerá o mesmo, independentemente de quando ou onde foram pronunciadas. Os visitantes devem lembrar-se de que convites ou desejos manifestados em conversas informais (tais como: ”Precisamos almoçar juntos um dia destes”) são levados a sério e, se esquecidos, podem gerar mal estar. O bate-papo informal, uma habilidade que os finlandeses notoriamente não têm, é considerado suspeito e não é especialmente valorizado.
É raro um finlandês estabelecer uma conversa com estranhos, a menos que seja levado a fazê-lo por um impulso especialmente forte. Os forasteiros logo percebem que os finlandeses são curiosamente silenciosos no metrô, no ônibus ou no bonde. Já nos elevadores, sofrem do mesmo desconforto mudo do resto do mundo. Apesar disto, um visitante agarrado a um mapa não terá qualquer dificuldade em obter orientação na rua ou em qualquer outro local público, pois a hospitalidade dos finlandeses facilmente se sobrepõe à sua tradicional reserva.
Os finlandeses ouvem melhor do que falam e interromper outra pessoa enquanto ela fala é considerado falta de educação. Um finlandês não fica ansioso com intervalos silenciosos durante uma conversa; o silêncio é considerado uma parte da comunicação. É comum os finlandeses falarem sem pressa, mesmo no seu idioma (o ritmo da leitura do noticiário na TV finlandesa é motivo de diversão para muitos estrangeiros) e, embora muitos finlandeses falem corretamente diversos idiomas, podem ser cautelosos quanto à velocidade em que tais idiomas são falados. Por outro lado, os finlandeses podem ficar animados e tagarelas em determinadas situações.
Uma vez que ficam conhecendo um estrangeiro moderadamente bem, os finlandeses estão dispostos a debater qualquer tópico; de modo geral, nem religião nem política são considerados proibidos. A Finlândia é um dos países líderes do mundo no ranking de leitura de livros e jornais e no uso de bibliotecas, por isso o finlandês médio é bastante bem informado sobre o que acontece na Finlândia e no resto do mundo. O fato de a Finlândia ser um país membro da União Europeia gerou um aumento de interesse por outros países da UE, sendo a moeda comum, a situação da agricultura e os efeitos da legislação da Comunidade Europeia assuntos para conversa sempre que dois ou três cidadãos da UE se encontram. Embora os finlandeses gostem de reclamar sobre as futilidades legislativas dos “burocratas de Bruxelas” tanto quanto os outros, de modo geral parecem aprovar sua condição de membro da UE e reconhecer os seus benefícios.
Os passatempos comuns são um tema natural de conversa e troca de opiniões na Finlândia como em qualquer outro lugar, sendo fácil entrar numa conversa animada com um finlandês sobre cultura e artes de um lado e esportes do outro. Os esportes são um tema especialmente fácil, pois os finlandeses recentemente tiveram êxitos em outras modalidades, além das já tradicionais corridas de longa distância e esportes de inverno: hoje há finlandeses mundialmente reconhecidos como jogadores de futebol, pilotos de corrida e esquiadores alpinos, e consequentemente amadores e entusiastas destas modalidades também. O golfe já se estabeleceu firmemente, em especial entre os finlandeses urbanos, embora eles sejam obrigados a abandonar este passatempo durante os meses de inverno. Esta privação é um tema especialmente apropriado para uma conversa com um visitante que se sente à vontade no mundo de drivers e putters, ou para os menos entendidos, dos diferentes tipos de tacos de golfe.
Tecnologia da informação
O celular agora presente em toda parte está revolucionando a imagem das habilidades de comunicação finlandesas. Os ring tones dos aparelhos, persistentes e supostamente engraçados, comprovam a vontade que as pessoas têm de se falar, especialmente quando não estão cara a cara. Um jornalista estrangeiro descreveu uma cena que ele considerou tipicamente finlandesa: um homem solitário sentado num bar, bebendo uma cerveja e falando ao celular. Seria esta a versão finlandesa de uma conversa informal? Ou seria uma maneira não intimista de comunicação?
O uso de aparelhos celulares na Finlândia é regido, assim como em outros países, por uma etiqueta superficialmente definida que proíbe o seu uso quando for perturbador ou perigoso, de maneira que o uso de celulares é terminantemente proibido em aviões e em hospitais. Ele é inapropriado durante reuniões. O uso de aparelhos celulares em bares e restaurantes pode ser considerado por muitos como invasivo, porém continua acontecendo. É tido como uma barbárie em teatros e igrejas, e as pessoas que se preocupam com os outros desligam os seus celulares nesses lugares.
Não resta dúvida de que os aparelhos celulares mudaram a percepção que os visitantes têm da Finlândia. Há poucas décadas um forasteiro voltaria para casa para contar que havia visitado uma tribo ártica, calada, reservada e introvertida, sendo que hoje a visão mais comum é de um povo hiper comunicativo que já vive a experiência de um futuro pelo qual alguns anseiam e outros temem: uma sociedade na qual todos podem comunicar-se entre si, não importa onde ou quando.
No mundo todo, a Internet e o e-mail transformaram radicalmente o modo como as pessoas encontram informações e mantêm contato. A Finlândia não é uma exceção a esta regra. Para os jovens o uso da gama cada vez maior de aplicativos de TI é rotineiro, sendo também um fator importante na formação da cultura jovem. Cada vez mais, políticos e diretores de empresas criam sites e mantêm blogs pessoais para comentar publicamente as suas vidas e os seus pontos de vista.
Idiomas
A língua materna dos finlandeses pode ser o finlandês, o sueco (5.6% da população fala o sueco) ou o sami (o idioma falado por cerca de 8.000 lapões). O finlandês pertence a um pequeno grupo idiomático fino-úgrico; fora da Finlândia ele é compreendido (e até certo ponto falado) na Estônia. Na Suécia ele também é falado pelo grande número de imigrantes finlandeses. Os finlandeses valorizam a capacidade de comunicação e incluem uma gama de idiomas estrangeiros no currículo escolar.
O inglês é amplamente falado na Finlândia, sendo que na comunidade empresarial algumas empresas o usam como o idioma para comunicação interna. O alemão não é mais amplamente ensinado, porém muitos finlandeses nascidos na década de 50, ou antes, aprenderam o alemão na escola como a sua primeira língua estrangeira. O francês, o espanhol e o russo são cada vez mais populares, tanto nas escolas como entre adultos que querem aprender outro idioma. Como Estado-membro da União Europeia e em vista das exigências decorrentes, no âmbito prático e social, os finlandeses sentem uma necessidade crescente de estudar idiomas europeus, pelo menos no caso dos finlandeses que viajam pela Europa a negócios ou daqueles que estudam no exterior.
As pessoas instruídas que falam o finlandês, especialmente aquelas que trabalham no setor público, falam o sueco até certo ponto, enquanto todos os finlandeses que falam o sueco falam o finlandês também. Apenas em algumas regiões costeiras e na região autônoma do arquipélago de Åland, o sueco é o idioma dominante. De fato, no arquipélago de Åland o sueco é o único idioma oficial. O fato de o idioma sueco ser considerado o idioma oficial conjunto do continente finlandês é evidenciado pelo uso de nomes bilíngues para as instituições públicas e em placas de ruas, neste último caso dependendo do porcentual de falantes de idiomas de comunidades minoritárias residentes em determinados municípios, e também pelo seu uso em programas que usam o sueco na rádio e na TV. Os finlandeses que falam o sueco têm uma cultura diferenciada, e os seus hábitos sociais são ainda mais influenciados pelas tradições escandinavas do que entre a maioria que fala o finlandês.
Nomes e títulos
Quando os finlandeses se apresentam, eles dizem o seu nome próprio e depois o seu sobrenome. As mulheres que usam ambos os sobrenomes de solteira e do marido os dizem nessa ordem. Embora os finlandeses tenham consciência e orgulho de quaisquer títulos oficiais que possam ter, eles raramente os mencionam quando se apresentam. Por outro lado, eles esperam ser chamados pelos seus títulos num contexto profissional e/ou oficial: Doutor Virtanen, Diretor Presidente Savolainen, etc. Entretanto, não é esperado que estrangeiros sigam este costume, com a exceção dos títulos de “doutor” e “professor”, se forem conhecidos. Caso contrário, um estrangeiro poderá dirigir-se a um finlandês com toda segurança usando o costume inglês de chamá-los de Sr., Sra., Srta., conforme apropriado.
A forma informal de dirigir-se a uma pessoa em finlandês (ou seja, o pronome da segunda pessoa do singular sinä, em oposição ao pronome formal da segunda pessoa do plural te) é comumente usada, não apenas entre amigos e conhecidos, porém também entre estranhos. É comum hoje em dia as pessoas dirigirem-se como sinä nos locais de trabalho, até e inclusive o nível gerencial superior, ao menos em locais de trabalho maiores. O uso do sinä é hoje comum também entre prestadores de serviços, embora as pessoas mais velhas possam ressentir-se da familiaridade implícita. De todo modo, os jovens ainda tendem a dirigir-se às pessoas de meia-idade ou aos idosos com mais formalidade usando a segunda pessoa do plural, caso não as conheçam muito bem.
Embora o uso da forma familiar sinä seja comum, o uso do primeiro nome exige um relacionamento mais próximo. É relativamente fácil passar a relacionar-se com um finlandês pelo primeiro nome, especialmente se ficar evidente que as partes passarão a encontrar-se com frequência, a negócios ou lazer. Entretanto, é considerado apropriado que o uso do primeiro nome seja objeto de acordo mútuo e específico. O uso do primeiro nome é sempre proposto pela pessoa mais velha ou pelo superior hierárquico, ou, no caso de iguais, pela mulher ao homem; o acordo é selado por um aperto de mãos, com um contato visual, com cada parte dizendo o seu primeiro nome em voz alta, e balançando a cabeça em sinal positivo. Fazer um brinde com schnapps, vinho ou champanhe dá à ocasião um ar de comemoração.
Afora isto, os finlandeses não exigem tanto que as pessoas lembrem os seus nomes como tantos outros povos. Não é comum dirigir-se às pessoas pelo nome ao cumprimentá-las (não importa o nível de familiaridade) ou no decorrer de uma conversa normal. O uso do nome próprio está penetrando lentamente a cultura finlandesa a partir do costume norte-americano, todavia mesmo sendo muito agradável ouvir o nosso nome próprio, os finlandeses não ficarão ofendidos se não forem chamados pelo nome.
Empresários e pessoas que ocupam cargos públicos devem distribuir seus cartões de visita para que os seus nomes e títulos sejam lembrados. Não há qualquer ritual especial relacionado à troca de cartões de visita na Finlândia. Para um visitante, receber um cartão de visita constitui uma boa oportunidade para perguntar como um nome deve ser pronunciado ou o significado de um título abreviado.
Cumprimento
Quando os finlandeses se cumprimentam eles o fazem com um aperto de mãos e estabelecem contato visual. Inclinar a cabeça formalmente é um sinal de respeito – ordinariamente um simples cumprimento com a cabeça é suficiente. O aperto de mãos finlandês é breve e firme e não envolve qualquer outro gesto como tocar os ombros ou o antebraço. Ao cumprimentar um casal, a esposa deve ser a primeira cumprimentada, salvo em ocasiões formais, quando os anfitriões devem ser cumprimentados primeiro pelo cônjuge que recebeu o convite. As crianças também são cumprimentadas com um aperto de mãos. Na Finlândia, são raras as pessoas que se cumprimentam com um abraço. Quando um homem cumprimenta alguém na rua ele deve tirar o chapéu; no rigor do inverno basta tocar a aba do chapéu.
Os finlandeses beijam tão bem quanto as outras nações, porém raramente o fazem quando se cumprimentam. O beijo na mão é raro. Amigos e conhecidos podem abraçar-se quando se encontram, e beijos na face não são totalmente desconhecidos, embora, de modo geral, este hábito não exista nas zonas rurais. Não existe uma etiqueta especial para o número de beijos no rosto; entretanto, a maioria dos finlandeses acha que três beijos são um exagero. Os homens raramente se beijam ao cumprimentar-se, e jamais na boca como o fazem nossos vizinhos orientais.
Alimentação
A cozinha finlandesa sofreu influências da Europa ocidental, da Escandinávia e da Rússia As maneiras à mesa seguem as regras europeias. O café da manhã pode ser farto. Em geral, os finlandeses almoçam entre as 11:00 e 13:00 horas, quando o horário de almoço para quem trabalha é de menos de uma hora. Os longos almoços de negócios que eram tão comuns agora foram reduzidos para 90 minutos ou duas horas. As refeições vespertinas são servidas em casa entre as 17:00 e 18:00 horas. Na maioria dos restaurantes, o jantar começa a ser servido a partir das 18:00 horas. Muitos restaurantes param de servir comida por volta de 45 minutos antes de fechar – vale a pena verificar o horário de atendimento ao reservar uma mesa. Os concertos e peças de teatro, em geral, são marcados para as 19:00 horas e os espectadores seguem para os restaurantes por volta das 22:00 horas.
Os cardápios dos restaurantes e a comida servida nas casas dos finlandeses raramente incluem ingredientes que os visitantes ocidentais desconhecem. A crescente conscientização nutricional tornou a dieta dos finlandeses, que era pesada e gordurosa, cada vez mais leve, sendo que os melhores restaurantes podem atender uma série de restrições dietéticas. O número cada vez maior de restaurantes étnicos diversificou a escolha ainda mais. Cerveja e vinho acompanham as refeições nos restaurantes à noite, porém, nos dias de hoje, são cada vez mais raros na hora do almoço.
Quando um jantar é oferecido, o anfitrião indica o lugar onde os convidados devem sentar-se à mesa, caso necessário. O convidado de honra senta-se à direita da anfitriã (ou do anfitrião, em jantares só para homens). Os finlandeses ficam muito apreensivos com esta possibilidade, pois o convidado de honra deve fazer um pequeno discurso de agradecimento ao final da refeição. Os convidados devem começar a comer apenas quando todos estiverem servidos; usualmente, o anfitrião fará um brinde no início do jantar, desejando aos seus convidados hyvää ruokahalua, o equivalente a bom apetite em finlandês. Beber antes deste brinde não é bem visto, a menos que a refeição tenha atrasado muito.
Os finlandeses raramente fazem discursos durante uma refeição, porém isso é costumeiro em ocasiões formais. Nesses casos, os discursos são feitos entre um prato e outro. Durante a refeição, o anfitrião pode fazer um brinde a convidados individuais, ou os convidados podem brindar entre si, erguendo os seus copos e estabelecendo contato visual. Após beber, as pessoas devem olhar-se novamente ao colocar o copo na mesa.
Em geral, café e bebidas são servidos junto com a sobremesa ou imediatamente depois. Se os anfitriões permitirem, este é o momento para acender charutos e cigarros. É claro que o anfitrião pode ter sugerido ou permitido isto antes do jantar. Ao levantar-se da mesa, os convidados devem agradecer os anfitriões pela refeição, em poucas palavras e assim que tiverem uma oportunidade, não sendo necessário esperar que o convidado de honra o faça.
Drinking
A média de consumo anual de álcool dos finlandeses, por pessoa, é um pouco superior a dez litros de álcool puro, próxima da média europeia. Os hábitos dos finlandeses com relação à ingestão de bebidas alcoólicas normalmente acompanham aqueles dos escandinavos e europeus. Há menos peculiaridades nacionais nesse sentido do que é possível imaginar, considerando a reputação dos finlandeses de ingestão de álcool; as bebedeiras são bastante comuns, como o são em todo o Norte da Europa e em certas regiões do Reino Unido.
Entretanto, o consumo de vinho e de cerveja, em oposição ao de destilados, aumentou nos últimos anos, e em vista disso hábitos mais corretos de ingestão de bebidas tornaram-se mais comuns. O consumo de álcool na hora do almoço deixou de ser tão comum quanto era no ambiente de negócios, sendo raríssimo no setor público.
O consumo de álcool varia um pouco, de acordo com as diferenças socioeconômicas e, até certo ponto, por região. A influência dos hábitos de ingestão de bebidas dos povos da Europa Central e do Mediterrâneo é bem evidente entre os jovens adultos da classe média urbana e dos finlandeses um pouco mais velhos com nível de escolaridade superior.
A importação e venda de vinhos e de outras bebidas alcoólicas é controlada, em grande parte, pela empresa estatal Alko, sendo que os consumidores individuais podem comprar bebidas alcoólicas somente nas lojas da Alko, salvo no caso de cervejas e cidras de teor alcoólico médio, que podem ser compradas na rede varejista de alimentos. A Alko é uma importante compradora de vinhos, com estoques de uma seleção ampla e geograficamente representativa de todas as qualidades, inclusive das marcas mais sofisticadas. Já, no caso dos restaurantes, muitos importam os seus próprios vinhos diretamente de fornecedores no exterior.
Em casa, os finlandeses normalmente reservam o vinho para o fim de semana, porém é comum servir vinho junto com as refeições preparadas para convidados e nos restaurantes. Com frequência – e quase sempre, no caso dos finlandeses que falam o sueco – a refeição é precedida por um schnapps, um trago de vodca ou de aquavita em um copo minúsculo. Este hábito é considerado uma parte fundamental das refeições com pratos de peixe frio, e absolutamente essencial com lagostinha. Os finlandeses que falam o sueco costumam alegrar a ocasião com uma estrofe ou duas de canções especiais para esse momento, antes de cada trago de schnapps. Os jantares com muitos convidados incluem alguém responsável pelos brindes, que estabelece o intervalo entre cada trago e lidera a cantoria. Os finlandeses que falam o finlandês têm uma etiqueta relacionada à bebida menos elaborada e estruturada, embora também existam canções para schnapps em finlandês. O schnapps em geral é acompanhado de água mineral, ou em alguns casos de cerveja, que é comumente servida com as refeições. A cerveja também é usada para matar a sede provocada pela sauna.
Os visitantes podem tratar os hábitos de ingestão de bebidas dos finlandeses como acharem melhor. Não é necessário beber um trago de schnapps de uma só vez, mesmo se o seu vizinho fizer isso. Basta levar o copo à boca, sem engolir. É também perfeitamente aceitável pedir água mineral ou vinho não alcoólico com uma refeição. O almoço é de todo modo, normalmente acompanhado por bebidas não alcoólicas, e em geral refrescos são oferecidos. A abstinência também é estimulada pela legislação aplicável; na Finlândia o teor de álcool no sangue permitido para a condução de veículos é muito baixo, e as penalidades são severas.
Gorjetas
O hábito de dar gorjetas nunca foi naturalmente absorvido pelo estilo de vida finlandês. Isto pode estar relacionado às tradições de uma religião que dava muita ênfase à frugalidade; hoje, as pessoas não dão gorjeta simplesmente porque entendem que o preço já inclui todas as atenções e cortesias associadas ao serviço, ou seja, considera-se que “o serviço está incluído”. De todo modo, pode-se dar gorjeta na Finlândia e com segurança, pois embora ninguém se oponha a receber uma gorjeta, poucos se importarão se a gorjeta não for incluída.
Como regra geral, o serviço está incluído nas contas dos restaurantes. Entretanto, é comum acrescentar uma taxa de serviço às contas que serão pagas pelo empregador do cliente. Com frequência, aqueles que pagam por suas próprias refeições e em dinheiro, arredondam a conta para cima. Isto não exige uma aritmética complicada, pois ninguém se importa se a gorjeta for de fato 10-15% do valor total.
É muito raro dar gorjetas em hotéis. Se um hóspede acreditar que deu mais trabalho do que deveria ter dado para a arrumadeira, então seria apropriado deixar uma gorjeta no quarto. Apenas os hóspedes que ficarão no hotel por estadias longas devem dar gorjetas à equipe que trabalha na recepção. Os porteiros dos hotéis na Finlândia são iguais aos seus colegas de profissão do mundo inteiro e ficarão felizes com uma “cervejinha”. E também não há nada de errado em deixar algumas moedas no balcão para o pessoal de um bar.
Os taxistas não esperam receber gorjetas, porém os clientes com frequência arredondam o valor da corrida para cima. Os principais cartões de crédito são normalmente aceitos em táxis e, neste caso, a gorjeta em dinheiro é mais prática.
No caso de convidados de anfitriões finlandeses, a gorjeta ficará a critério destes.
Fumar
O hábito de fumar diminuiu nos últimos anos, e as reações ao fumo se tornaram mais negativas. A lei proíbe fumar em prédios públicos e nos locais de trabalho, e como os finlandeses em geral obedecem às leis, eles se adaptaram a esta proibição. Não obstante, fumar é bastante comum em todas as faixas etárias. A moda internacional aumentou a popularidade dos charutos entre uma minoria de fumantes de tabaco.
Como ocorreu em muitos outros países, a Finlândia proibiu totalmente o fumo na maioria dos restaurantes e outros locais que precisam de uma licença para operar.
Os fumantes devem mostrar consideração para com os outros. Quando uma pessoa é convidada para uma casa, deve perguntar antes aos anfitriões se eles se importam com o cheiro de tabaco, mesmo se houver um cinzeiro. Os fumantes poderão ser levados até o terraço, o que tem como efeito uma redução drástica de ingestão de nicotina quando está frio!
Visitando os finlandeses
A casa dos finlandeses é, em grande parte, o foco da vida social na Finlândia – em grande parte ao menos em comparação com outros países, onde é mais comum encontrar-se em restaurantes. Há razões culturais, e também econômicas, por trás desse fato. Um interesse crescente por vinhos e por cozinhar aumentou a tendência de receber em casa. Um visitante estrangeiro não precisa sentir-se inseguro se for convidado à casa de um finlandês; ele poderá esperar um ambiente descontraído e bastante informal, e se ele enviar ou trouxer um ramo de flores ou uma garrafa de vinho para os anfitriões, esse gesto será muito apreciado.
Um desafio cultural maior para visitantes estrangeiros é quando são convidados para ir a uma das inúmeras casas de veraneio espalhadas ao longo das bordas dos lagos e do mar na Finlândia. Um entre quatro finlandeses possui uma cabana de veraneio e, para muitos, ela é considerada uma segunda casa. Os sociólogos costumam esclarecer que a moradia de veraneio é um laço que os finlandeses mantêm com o seu passado rural, sendo que de fato muitos finlandeses se transformam em pescadores, jardineiros, fazendeiros, carpinteiros ou guardas-florestais surpreendentemente competentes quando vão para as suas casas de veraneio.
Ninguém espera que um convidado participe ativamente desta experiência rural. Por outro lado, ele deverá submeter-se, sem reclamar, às condições da casa de veraneio que às vezes podem ser primitivas, já que nem todas têm energia elétrica, água corrente, vasos sanitários com descarga ou outras amenidades urbanas. Muitas famílias consideram que até mesmo um aparelho de TV é incompatível com o dia a dia genuíno das cabanas de veraneio.
O hóspede deve vestir-se informalmente, porém de maneira prática quando visitar uma cabana de veraneio. Botas de borracha, capas de chuva e jaquetas protetoras fazem parte do guarda-roupa dos finlandeses nestes casos e serão usadas, dependendo do clima, para pescar, catar cogumelos ou andar na floresta. Os convidados experientes compreendem que sob estas condições os anfitriões, especialmente a anfitriã, terão muito trabalho para que eles aproveitem a sua estadia ao máximo. Assim, sem correrem muitos riscos, os convidados podem oferecer ajuda com as tarefas rotineiras, como descascar batatas ou cebolas, e fazer isto será muito apreciado.
Para os anfitriões, a maior recompensa será que os seus convidados se divirtam, chova ou faça sol. Quanto à duração da estadia, seria educado o convidado indicar que vai partir na hora do café da manhã no terceiro dia, ficando mais tempo apenas se os anfitriões protestarem com convicção.
Hora e as estações
Embora a mudança de estações ocorra em todos os lugares, na Finlândia elas acompanham o progredir do ano de forma muito marcante. Como se estende para bem ao norte do Círculo Ártico, a Finlândia sofre extremas variações de temperatura e de luz do dia e não seria exagerado dizer que existem nela duas culturas: uma dominada pela luz quase perpétua do verão e temperaturas surpreendentemente altas e a outra, caracterizada por invernos cruelmente frios e a escuridão ártica que só brevemente cede ao crepúsculo durante o dia.
Embora o verão chegue a cada ano, virtualmente todo o país “fecha” pelas cinco ou seis semanas que se seguem ao solstício de verão, o que ocorre ao final de junho, quando os finlandeses viajam em massa às suas casas de férias no campo. Aqueles que não passam seu tempo ao ar livre o fazem em cafés e bares, parques e praias, sendo sociáveis e positivos. Correspondências comerciais e pessoais poderão ser temporariamente engavetadas. E-mails alegremente respondem “fora do escritório” por um mês ou mais e as conversas entre amigos falam mais de “como os peixes estão mordendo” ou como está crescendo o jardim ao invés de assuntos de política e economia mundiais. É fácil para o visitante observar que os finlandeses têm muito orgulho de serem finlandeses e de viver na Finlândia. Estimular estes sentimentos é visto com muita simpatia.
Com a aproximação do inverno, os finlandeses fecham suas casas de verão, guardam seus barcos em docas secas, colocam os pneumáticos de neve nos seus carros, encostam seus tacos de golfe no porão e verificam como estão os seus esquis. Enquanto os ancestrais rurais dos atuais finlandeses “matavam o tempo” durante o longo inverno fabricando ou consertando ferramentas para o verão, seus descendentes trabalham em escritórios, tornando o seu país, com crescente eficiência, uma maravilha da tecnologia de ponta.
Os finlandeses são um povo pontual e, em certo sentido, prisioneiros do tempo. Como em todos os lugares do mundo, aqueles com tarefas mais exigentes têm agendas apertadas; faltar aos compromissos os angustia. Os horários de reuniões são escrupulosamente respeitados, ao minuto se possível, e chegar com um atraso de mais de 15 minutos é considerado falta de educação e requer uma breve desculpa ou explicações. Concertos, peças de teatro e outros eventos públicos começam pontualmente e são raros os atrasos nos trens ou ônibus.
De maneira geral, a vida ocupada chegou para ficar e uma agenda cheia de reuniões e negociações é motivo de orgulho e um “símbolo de status” na Finlândia, e não um sintoma de desorganização. Neste ambiente, o tempo dedicado aos hóspedes é uma das maiores indicações da importância da ocasião. Quando um finlandês deixa de olhar para o seu relógio e sugere que se coma ou beba algo mais, ou até mesmo fazer uma sauna, o visitante pode ter certeza de estar estabelecendo uma duradoura relação de negócios ou de amizade.
Festivais
Os finlandeses gostam de celebrações e o calendário oficial do seu país não difere muito daqueles de outros países europeus. Uma das grandes diferenças é que o calendário Protestante Luterano não prevê todos os dias festivos da tradição católica. Os visitantes podem estranhar que os finlandeses têm comemorações calmas e sérias em ocasiões que seriam ruidosas e alegres na Europa continental.
O Natal e a noite que o antecede são tipicamente uma festa de família, geralmente comemorado em casa ou com parentes. Os costumes incluem o acender de velas ao lado dos túmulos das pessoas da família que faleceram. Os finlandeses trocam votos de “Feliz Natal”, porém frequentemente dizem “Natal em Paz”. O Natal é geralmente um dia tranquilo e a vida social não é retomada até o dia 26 de dezembro ou “Boxing Day”.
O dia 6 de dezembro é o Dia da Independência, uma ocasião marcada por observância a um cerimonial solene. O dia lembra e homenageia aqueles que deram suas vidas para proteger a independência da Finlândia, conquistada em 1917. Ao entardecer, o Presidente da República é o anfitrião de uma recepção para cerca de 2000 convidados, incluindo todo o corpo diplomático reconhecido pela Finlândia. Assistir esta recepção na televisão se tornou um passatempo predileto de toda a nação.
No Inverno, a terça-feira de carnaval é praticamente a única ocasião festiva na qual se observa alegria em público, muito embora isto não seja sequer uma amostra dos carnavais comemorados em nações mais ao sul. Logicamente, as festas anuais mais coloridas ocorrem, na Finlândia, nos períodos mais quentes do ano. O primeiro de maio, internacionalmente a festa para trabalhadores e estudantes pode, justificadamente, ser descrito como um “Carnaval” e o dia de São João, a “noite sem noite” é uma ocasião para desinibida alegria, uma vez que marca, para a maioria dos finlandeses, o começo das férias de verão e a mudança para as casas de campo.
A sauna
Uma nação com cinco milhões de habitantes e 1.5 milhões de saunas não precisa adquirir qualquer instrução formal quanto ao uso da sauna. Aprender a usar a sauna é um hábito adquirido tão naturalmente quanto aprender a falar. Os novatos talvez devam experimentar a sauna pela primeira vez na companhia de um amigo ou conhecido finlandês, ao invés de tentar seguir um guia de instruções que reduziria a experiência da sauna a um exercício militar.
Na Finlândia, homens e mulheres fazem sauna, porém jamais juntos, a não ser que estejam em família. Não existem saunas públicas mistas na Finlândia. Um visitante que hesita em fazer uma sauna deve lembrar-se de que, caso a sauna tenha sido especialmente aquecida para ele ou ela, será uma questão de honra para os anfitriões que ela seja usada, a menos que restrições muito sérias de saúde o impeçam de fazê-lo.
A sauna é algo absolutamente natural para todos os finlandeses, embora as pessoas tenham a sua forma particular de usá-la. Apesar disso, nenhum finlandês diria que o outro está fazendo algo de errado. Trata-se, apenas, de uma questão de preferência. Essa diferença talvez seja um bom princípio a ser obedecido pelo visitante: ouça o seu próprio corpo e siga o seu próprio ritmo ao passar da sala quente, para a sala de banho e para o ar livre, talvez incluindo um lago ou o mar. Ajudará bastante fazer o que os outros estão fazendo, porém evite os extremos: alguns finlandeses acham necessário demonstrar a sua tenacidade ficando sentados em saunas escaldantes durante período inusitadamente longo. Em uma situação como essa, talvez fosse mais sábio escapar para ingerir líquidos e aproveitar a paisagem. Por outro lado, pode ser igualmente compensador deixar-se levar por rituais desconhecidos, com a mente aberta. A sensação de um leve tapa na pele, com um maço de brotos tenros de bétula, no calor da sala da sauna úmida, pode vir a ser uma agradável experiência terapêutica.
A sauna não é um lugar para pessoas apressadas. Quando o ritual termina, é comum continuar a ocasião com uma conversa descontraída, bebidas e talvez uma refeição leve. Os comentários do hóspede sobre a sua experiência serão ouvidos com atenção. Afinal de contas, este é um assunto sobre o qual os finlandeses não se cansam de falar.
Elaborado em novembro de 2002. Atualizado em março de 2010.
Ilustrações de Mika Launis