Cirurgião finlandês cura atletas mundialmente famosos

A Finlândia é famosa no campo da medicina esportiva e grande parte dessa reputação pode ser atribuída a um médico. Atletas de elite de todo o mundo procuram tratamento com o cirurgião finlandês Sakari Orava.

Os jogadores de futebol Ousmane Dembélé, David Beckham e Didier Deschamps e os corredores Haile Gebrselassie e Merlene Ottey são apenas alguns dos atletas que Orava ajudou a recuperar de lesões.

Não faz muito tempo, um triatleta de Los Angeles voou para a Finlândia para uma cirurgia na cidade sudoeste de Turku. Ele não encontrava possibilidades de melhora para seu isquiotibial problemático; três operações realizadas nos EUA não foram bem-sucedidas.

A visita à Finlândia finalmente permitiu ao paciente curar-se, mas os honorários do médico permaneceram não remunerados, embaraçados na companhia de seguros americana por causa da confusão sobre a localização da clínica. O cirurgião no caso era Orava. Ele ri ao lembrar-se. “Eles olham o mapa”, diz ele, “vêem que Turku está tão próximo à Rússia, que assumem que pertencemos à Rússia”.

Depois de um tempo, ele finalmente recebeu seus honorários, mas o absurdo do mal-entendido enfatizou um paradoxo na medicina moderna do esporte. Atletas famosos com fãs de todo o mundo recebem tratamento de um cirurgião super renomado, porém conhecido num nicho de poucas pessoas.

Carreira com 25 mil operações

O corredor etíope Haile Gebrselassie comemora a conquista da Maratona de Berlim em 2006. Alguns anos depois ele pediu que o cirurgião finlandês Sakari Orava operasse seu tendão de Aquiles.Foto: Fabrizio Bensch/Reuters/Lehtikuva

Da mesma forma, nem todos ouviram falar de Turku, uma cidade encantadora que possui uma catedral de 600 anos e serviu como capital da nação finlandesa no passado. No entanto, todos os grandes atletas do atletismo conhecem Orava. Atletas de elite vêm a Turku para que ele “conserte” seus corpos.

Um dos principais cirurgiões de medicina esportiva do mundo, Orava realizou mais de 25 mil operações em uma carreira que inclui a atuação como médico da equipe finlandesa em quatro olimpíadas de verão e 32 anos como médico nacional da equipe de track & field.

Várias publicações referem-se a ele como o Dr House da medicina esportiva, por sua habilidade em diagnosticar e resolver rapidamente problemas que outros médicos não conseguem detectar. Seus colegas maravilham-se com sua habilidade em pegar casos considerados insondáveis por um longo tempo e ser capaz de fazer um diagnóstico. No entanto, o médico amável é extremamente modesto no que diz respeito a sua importância.

“Como dios”, “como deus”,  é a forma como a corredora olímpica espanhola Marta Dominguez descreveu Orava e seu toque. Depois que Orava reparou o tendão de Aquiles de David Beckham, em 2010 em Turku, o renomado jogador de futebol elogiou Orava nas mídias sociais. Xeiques do Oriente Médio também vêm a ele para cirurgias. Em 2010, a Sérvia enviou um jato particular para buscar Orava para que ele pudesse operar o tendão de Aquiles do presidente Boris Tadic, depois de uma lesão jogando basquete.

Realizações impressionantes

Saku Koivu, que se consultou com Sakari Orava para um problema de joelho, foi o capitão do Montreal Canadiens por uma década no início dos anos 2000. Aqui, ele ataca durante um jogo de eliminatórias da Stanley Cup 2009 contra os Bruins de Boston.Foto: Elsa Garrison/Getty Images/AFP/Lehtikuva

A longa lista de estrelas internacionais que Orava ajudou a retornar ao campo é impressionante o suficiente para que suas conquistas tenham ajudado a tornar a Finlândia um líder mundial em medicina esportiva. “Eu não sou o único médico que recebe pacientes estrangeiros”, diz ele. “Temos uma longa tradição que começou nos anos 60”.

Orava nasceu na cidade da costa oeste de Kokkola, no verão de 1945. Um campeão de boxe junior e um entusiasta do judô, Orava levou sua paixão por esportes com ele para a faculdade de medicina da Universidade de Oulu, onde viu oportunidade para especializar-se nesta área, visto que a Finlândia possui um apetite voraz por esportes.

Na época em que os jogadores finlandeses de hóquei estavam apenas começando a ganhar espaço na NHL, as equipes logo descobriram que um jovem e brilhante médico finlandês, que também falava sueco, inglês, alemão, italiano e espanhol poderia reparar lesões que seu dinheiro e tecnologia não conseguiam.

Alguns anos depois, o grande astro finlandês do hóquei, Saku Koivu, nascido em Turku, voou para casa para que Orava examinasse seu joelho. Koivu jogava para os Canadiens de Montreal na época e, deixando o médico da equipe perplexo, Orava conseguiu fazer um diagnóstico e reparar o joelho do atleta.

Orava expandiu sua prática ao abrir clínicas em Roma e Barcelona, mas agora, na faixa dos 70 anos de idade, já não vê mais pacientes fora de sua cidade adotiva de Turku. Ele às vezes pensa em se aposentar, mas colegas pedem para que não o faça, porque eles precisam de seu conselho e de suas mãos habilidosas.

Modéstia e memorabília

Sakari Orava mostra algumas lembranças de agradecimento que recebeu de seus pacientes.Foto: Heikki Saukkomaa/Lehtikuva

Um testemunho de seu trabalho: uma medalha de ouro da Liga dos Campeões do Real Madrid, que recebeu dos médicos da equipe, repousa em uma prateleira em seu escritório. Entre várias outras recordações esportivas há a imagem de um esquilo, dado a ele por um paciente idoso, pois Orava significa “esquilo” em finlandês. O paciente não tinha certeza se ele apreciaria o presente, mas este o deixa quase tão feliz quanto a medalha.

Por toda sua modéstia, Orava às vezes se chateia quando a Finlândia não recebe o devido respeito como uma meca da medicina esportiva. A história do triatleta de LA foi um exemplo; assim como as relações ocasionais com médicos americanos.

“Eles me disseram: ‘se você fosse um americano e tivesse inventado todas essas coisas [na América], você seria um homem famoso e rico’”, diz Orava. “Mas não nos importamos com isso. As pessoas normalmente ligam para a clínica e dizem: “Tentei obter ajuda [no meu próprio país], mas ninguém quer me operar. Posso ir para a Finlândia? ”

E assim o mundo segue.

Por Michael Hunt, fevereiro 2018