Pessoas geniais constroem máquinas inteligentes na Finlândia

Nascido na Turquia, Oğuzhan Gençoğlu escolheu a Finlândia como lugar para estudar o aprendizado de máquina e fundou uma startup de inteligência artificial.

Gençoğlu é um dos três co-fundadores de uma startup única, baseada em Helsinque, especializada em aprendizado de máquina. A empresa é qualificada em análise de dados e em fazer previsões especializadas. O emprego disto varia desde o aumento da produtividade em uma fábrica florestal até a descoberta do câncer de próstata em um paciente.

Nascido em Ancara, na Turquia, Genenteğlu veio para a Finlândia para cursar mestrado na Universidade de Tecnologia de Tampere, onde estudou extensivamente aprendizado de máquina e aprendizado estruturado profundo.

“O aprendizado de máquina é um subconjunto da ciência da computação, em que algoritmos analisam dados, aprendem com eles e aplicam o que aprenderam”, diz ele. “A aprendizagem estruturada profunda é um subconjunto do aprendizado de máquina que usa redes neurais artificiais”.

Gençoğlu explica a inteligência artificial como “máquinas que imitam as funções cognitivas dos humanos”. Ele comenta que “as pessoas usam muito o termo ‘AI’ quando se referem a pseudociência ou a ficção científica”.

O aprendizado de máquina pode identificar objetos em imagens ou até mesmo reconhecer indivíduos. Pode aprender a jogar ou conversar com pessoas. A dissertação de doutorado de Gençoğlu trata do uso de aprendizado de máquina para prever epidemias de influenza com base nas postagens em redes sociais.

Vantagens diversas

Da esquerda para a direita: Hung Ta, Timo Heikkinen e Oğuzhan Gençoglu elaboram um plano.Foto: Hoang Minh Trang/Top Data Science

Em 2016, Gençoğlu juntou-se a Hung Ta, um matemático vietnamita com doutorado em biotecnologia, e a Timo Heikkinen, um empresário finlandês com experiência em software, para fundar a Top Data Science, especializada em aprendizado de máquina. Agora, Gençoğlu é o chefe de ciência de dados de uma empresa que conta com dez funcionários de seis países diferentes.

“É definitivamente uma vantagem ser tão diversificado”, afirma Gençoğlu. “Trabalhamos com muitas empresas internacionais, por isso, se estamos conversando com uma empresa chinesa, é uma vantagem ter um orador chinês em nossa equipe.”

A empresa usa o histórico multicultural de seus empregados como uma chance para a formação de equipes. Todo mês eles têm uma reunião com eventos, jogos, histórias sobre suas culturas e comida de seus países de origem.

“Oferecemos a IA como um serviço: soluções sob medida para desafios específicos”, diz Gençoğlu. “Se você for a uma das grandes empresas do setor, eles simplesmente oferecerão um de seus produtos plug-and-play. Nós usamos o tempo para entender o cliente e o problema”.

A Top Data Science trabalha em vários setores, que incluem também a engenharia florestal e a geração de imagens. A empresa está baseada na Health Innovation Village da GE em Helsinque, uma casa para dezenas de startups relacionadas à saúde e ao bem-estar. Os principais laços da Data Science com o setor de saúde foram recompensados quando os médicos do Hospital Central da Universidade de Helsinque quiseram minimizar as biópsias e, para isso, pediram que a empresa desenvolvesse um software para diagnosticar o câncer de próstata, a partir das ressonâncias magnéticas.

“Nós treinamos o algoritmo usando exemplos de imagens de ressonância magnética e informações de biópsia”, diz Gençoğlu. “Agora, quando novos dados são apresentados, é possível fazer previsões”.

Coisas que precisamos entender

As pessoas não são máquinas – humanos aprendem de forma diferente. Eles precisam de hobbies e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Tocar violão é um dos interesses de Gençoğlu fora do escritório.Foto: Tiina Hautamäki

Outro projeto-teste envolveu discernir quais pacientes estavam em risco de piorar e quais poderiam ser liberados da unidade de terapia intensiva. A solução da Top Data Science pode ser uma ferramenta valiosa para os médicos que tomam essas decisões.

Gençoğlu está satisfeito com o status de aprendizado de máquina na Finlândia, mas admite que ainda há trabalho a ser feito.

“A Finlândia está um pouco atrás dos Estados Unidos”, diz ele. “A China também é muito forte. Temos muitos talentos de IA na Finlândia, mas as empresas ainda são muito conservadoras e atrasadas para adotá-la. Às vezes, especialistas na Finlândia vão trabalhar no Vale do Silício ou simplesmente permanecem na academia.”

No entanto, algumas atividades recentes aumentaram o status do aprendizado de máquina na Finlândia. Por exemplo, a Universidade de Helsinque e a empresa de consultoria Reaktor oferecem um curso gratuito de IA chamado Elementos de Inteligência Artificial, ainda disponível online no momento da escrita deste artigo.

“O curso Elementos da IA é uma ótima ideia”, diz Gençoğlu. “É importante para o público saber, por exemplo, como o ato de marcar pessoas em fotos treinou o software de reconhecimento facial do Facebook, ou como a identificação de spam do Gmail treinou os algoritmos do Google. As pessoas precisam entender como estas coisas funcionam para que possam ter impacto nas políticas públicas.”

Então, ele se preocupa com o que as redes sociais estão fazendo com seus dados?

“Eu não tenho nenhuma conta de mídia social, exceto pelo LinkedIn”, diz ele. “A principal razão é que eu não tenho interesse, mas talvez eu também seja um pouco mais consciente sobre a privacidade e sobre como os dados são usados.”

Por David J. Cord, julho de 2018