O Natal tem significados diferentes para pessoas diferentes, mas você não precisa ser pão-duro se decidir que não é para você. E claro, você também não precisa ser cristão para participar.
É impossível que o Natal na Finlândia passe despercebido. Os primeiros cartões e chocolates embrulhados para presentes aparecem a cada ano um ou dois dias mais cedo e os pikkujoulut (comemorações que ocorrem no período pré-natalino), são organizados cada vez com mais afinco do que o evento principal. E quando chega a hora do evento principal nós nos desculpamos pelo vazio de nossas contas bancárias dizendo a nós mesmos que é “pão-durice” não gastar com comida, bebida e presentes.
Pelo menos, a maioria de nós faz isso. Às vezes também é difícil lembrar que há pessoas que tomam a decisão de não participar, como os cerca de 40 mil muçulmanos que moram na Finlândia, por exemplo. Muitos deles são descendentes de muçulmanos tártaros que vieram para cá quando o país era um grão-ducado sob o Império Russo. Já os recém-chegados são do Kosovo, da Bósnia, da Somália e de vários outros países.
“O Natal é um feriado não islâmico, então os muçulmanos passam esse tempo como a maioria dos finlandeses: relaxando e tentando ficar com a família, mas pode ser que alguns trabalhem”, diz Anas Hajjar, presidente do Conselho Islâmico da Finlândia. “Como os muçulmanos não celebram aniversários como feriados religiosos, o Natal não é celebrado, mas é respeitado, pois comemora o nascimento de um grande profeta.”
Diferenças não são um problema
“Como o aniversário de Cristo é quase certo dizer que o Natal é o momento em que o cristianismo é separado da religião judaica”, diz Dan Kantor, diretor executivo da Comunidade Judaica de Helsinque. A maioria dos 1.500 judeus da Finlândia vive na área da capital, usando a sinagoga no distrito de Kamppi e seu centro comunitário adjacente como centro religioso e social.
“Lembro-me da minha própria experiência quando criança, quando costumava olhar pela janela e ver os papais Noeis correndo de vizinho para vizinho”, diz Kantor. “Naquela época, talvez não fosse difícil achar que não pertencíamos ao resto do povo finlandês. Mas nós temos nossos próprios feriados. Claro, você sente uma diferença neste momento – você não pode escapar disso. Mas isso não é um problema porque temos uma identidade forte.”
A festa judaica do Hanukah, um festival de luz, coincide com a época festiva cristã, e os presentes também são dados às crianças neste momento. “Na maioria dos lares e famílias judaicas, o Natal não tem um papel”, diz Kantor, “mas hoje em dia, como a maioria dos casamentos são casamentos inter-raciais, o Natal passou a entrar mais em cena”.
Luz acima da escuridão
Outro elemento não cristão se une às celebrações, mas não por motivos religiosos. “Minha esposa e eu somos ateus desde a nossa adolescência, mas ninguém que nos visite na época do Natal notaria qualquer diferença”, afirma Jaakko Wallenius, compilador do blog Being Human. “Todo mundo que tenha pelo menos um conhecimento rudimentar da história sabe que o Natal não tem nada a ver com as crenças cristãs. O Natal, também chamado de Yule – que é próximo da palavra finlandesa para o Natal, joulu – foi um grande evento para as nações germânicas pagãs muito antes de se converterem ao cristianismo.
“A principal função do Natal é celebrar os laços familiares e proporcionar uma oportunidade para cessar todas as atividades normais”, continua Wallenius. “Por causa disso, é possível encontrar tempo para buscar paz e harmonia, já que não há horários ou lugares restritos para ir. Muitas pessoas se equivocam achando que esses sentimentos devem de alguma forma estar ligados a uma religião, mesmo que a religião não seja necessária para concretizarmos essas coisas.
“Esta festa sempre foi uma celebração da luz sobre as trevas, embora uma parte da população tenha decidido celebrar simultaneamente o aniversário do fundador de sua religião. Não temos motivos para abandonar essas tradições milenares, mesmo que a igreja cristã tenha tentado sequestrá-las por séculos.
Pelo menos um grupo de não-cristãos pode comer seu bolo de Natal.
Por Tim Bird