Um dos destaques da cena musical de Helsinki é a banda Maria Gasolina, que tem a proposta de fazer versões em finlandês, de “Hits” pouco conhecidos na Finlândia. A maior parte das músicas são do Brasil mas também tem algumas das outras culturas, como do Haiti, da Turquía e do Irã.
O grupo comemorou no ano de 2011, dez anos de estrada, uma data importante para uma banda independente.
A maior influência e origem de tudo, vem quando Lissu Lehtimaja (a vocalista e idealizadora do projeto) fez o intercâmbio do colegial no Brasil no início dos anos noventa. Entre Caetano, Tv Pirata, carnaval, Rua Augusta, São Paulo, Amazônia, O bandido da Luz vermelha, e outras coisas, estava uma finlandesa absorvendo tudo isso.
De volta à Finlândia, país nórdico da sauna e do Papai Noel. Lissu, que aprendeu bem o português, pegou o violão e tentou passar para os amigos um pouco da riqueza que havia vivido nos trópicos.
Alguns anos depois em uma aula onde tinha que escrever poesias, Lissu resolveu fazer versões de músicas brasileiras; a professora leu, aprovou, se deu por satisfeita e ainda aconselhou que as poesias (ou seriam letras?), deveriam ser cantadas. Canta aqui, canta ali, e após alguns anos já tinha uma banda.
O batismo
Só faltava um nome e dentre vários foi batizada de Maria Gasolina (gíria brasileira utilizada pelos jovens que significa “mulheres que preferem os rapazes que possuem carros”). Ai sim, agora, já tem nome e tarefa: reinterpretar as realidades existentes nas músicas de diferentes culturas. A tradução é o ponto fundamental para fazê-la.
Lissu comenta: “Como traduzir uma letra, sem perder o sentido original e ao mesmo tempo criar significados para o público finlandês?” A língua finlandesa é completamente diferente do português; não possui gênero, nem artigos e pouquíssimas preposições. Tarefa nada fácil!
Dez anos depois
Nesse caminho percorrido ao longo de uma década, a banda fundou a própria gravadora, Gasolina Records, e gravaram dez discos entre re-mixes, lps, fitas cassetes, contendo um repertorio bem amplo com alguns dos clássicos da música popular brasileira como “Feijoada completa”, de Chico Buarque, “Xôte das meninas”, de Luiz Gonzaga, “País tropical”, de Jorge Ben Jor, e “Maracatú atômico”, de Jorge Mautner.
A Maria Gasolina criou uma relação bem interessante com o público, disponibilizando material na net para que as pessoas fizessem as próprias versões (detalhe: a música foi ”Alô, alô marciano” da Rita Lee e Roberto de Carvalho ) deu origem num cd promocional para as rádios e também disponibilizado gratuitamente na rede em 2010, com o título ”Haloo Haloo Marsilainen”. Outro caso, agora de vídeo, foi um concurso realizado via youtube para a música “Hetki lyö”, versão finlandesa da “The time is now” da banda britânica Moloko.
Os shows, já a um tempo, possuem um público fiel que deixa a casa cheia. Tudo que uma banda independente sempre quis. Mas, recentemente a Maria Gasolina resolveu dar um tempo. A vida de uma banda independente não é fácil e os integrantes têm outros afazeres. Então, anunciaram o último show para o dia 24 de fevereiro 2012.
Chegado o dia, lugar lotado, havia pessoas que vieram de outras cidades pra ver a banda. O show começou, e não foi diferente, o público cantou e dançou do começo ao fim. Entre projeções de trechos de filmes “cults”, samplers e uma performance emocionante, a banda despediu-se com a maturidade de saber que era a hora para fazer uma pausa.
“Vamos esperar um ano, pode ser que quando voltarmos, seja para fazer uma turnê no Brasil, mas até lá vamos pegar uma sauna, uma cervejinha e vamos ver o que vai rolar…” comentou Lissu logo após o fim do show.
Por Alexandre Riviello, março de 2012